terça-feira, 27 de outubro de 2009

Garoto acredita que voltará a sorrir

Cirurgião dentista extraiu todos os dentes de César Oliveira Ferreira. Agora, ele tenta se adaptar à nova vida, enquanto caso não é solucionado

Enquanto aguarda o resultado de alguns testes e se prepara para outros exames essenciais para a definição dos rumos de seu tratamento odontológico, o estudante César Oliveira Ferreira, de 17 anos, vai tentado se adaptar à realidade que lhe foi imposta após a cirurgia que o deixou sem todos dentes. O adolescente, que tem uma deficiência mental, segundo o pai, provocada por problemas durante o parto, deixou de ir à escola e teve de substituir a alimentação normal por líquidos.

“Estou comendo apenas sopas”, disse ontem pela manhã ao POPULAR. O retorno às aulas na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), de acordo com ele, está sendo adiado devido ao tratamento. Mas, apesar das mudanças inesperadas, César está otimista e acredita que voltará a sorrir e a levar uma vida normal. “Estou mais tranquilo”, declarou o rapaz.

Mobilização
Morador de Samambaia (DF), ele teve os dentes arrancados em uma cirurgia realizada em 24 de setembro pelo o cirurgião-dentista Wilson Oliveira Santos, no Hospital Regional da Asa Norte (HRAN), em Brasília (DF). Com dois sisos comprometidos por cáries, o adolescente deveria ter tido apenas esses dentes extraídos. Mas, ao acordar da anestesia, ele percebeu que seus 28 dentes tinham sido arrancados. “Quando acordei, estava sem dentes e fiquei nervoso”, contou César, que só conheceu o cirurgião- dentista no dia da operação.

Ampla mobilização para resolver caso

César Oliveira Ferreira, de 17 anos, afirmou que o cirurgião-dentista Wilson Oliveira Santos alegou que o paciente tinha uma “patologia” para justificar a cirurgia radical. O caso foi parar na Polícia, no Conselho Regional de Odontologia do Distrito Federal (CRO-DF) e mobilizou o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda.

Após visita à família do adolescente, na semana passada, o governador afirmou que o Estado é responsável por reparar o dano feito e investigar o caso, punindo os responsáveis. Uma equipe da Secretaria de Saúde do DF está responsável pelo tratamento de César. Conselheiros do CRO-DF também estão acompanhando o atendimento ao rapaz.

“Ele está recebendo atendimento de profissionais muito capacitados”, disse Alfredo Ferreira Vieira, pai de César, confiante no sucesso do tratamento do filho. Nos próximos dias, César deve se submeter a uma tomografia. Segundo o presidente do CRO-DF, Júlio César, todos os recursos da odontologia serão usados para recuperar a saúde bucal do adolescente. Um dos recursos pode ser o implante de 26 dos 28 dentes extraídos.

Delegado que apura caso já ouviu testemunhas

Ontem pela manhã, Alfredo Ferreira Vieira e Maria Aldenora Oliveira, pais de César Oliveira Ferreira, estiveram na 5ª Delegacia de Polícia do Distrito Federal (DF), que apura o caso. O delegado Laércio Rosseto já ouviu algumas testemunhas. Segundo ele, a data do depoimento do cirurgião-dentista Wilson Oliveira Santos ainda não foi marcada. O delegado informou à imprensa que o cirurgião-dentista pode responder a processo criminal por lesão corporal gravíssima.

Wilson Oliveira Santos pode sofrer uma punição ético-profissional e até ter cassado o direito de exercer a odontologia. O Conselho Regional de Odontologia do DF (CRO-DF) investiga se houve falha na conduta. “É um profissional de respeito, que atua há mais de 10 anos na Secretaria de Saúde e tem amplo direito de defesa”, disse o presidente do CRO-DF.