segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Classe média entra na onda do Implante de dentário barato

Já era meio dia quando a mulher morena, de cerca de 40 anos, deitada na cadeira do dentista, levantou a cabeça com a "janela" toda aberta. Ela se esforçou para ver a equipe entrando na sala ao lado, para fotografar uma entrevistada de sorriso pronto.
A morena trabalha ali nas cercanias, assim como a moça que conversaria com a repórter. Aproveitava o horário do almoço para instalar prótese onde a natureza deixou ruir um incisivo. De roupas simples e hábitos financeiros equivalentes, ela representa a nova classe média que invadiu os consultórios dentários, nesses últimos anos.
É gente que não acaba mais indo atrás de dar uma garibada nas arcadas, mas quem gargalha, feliz, são os próprios dentistas. "Estamos vivendo o segundo boom da implantodontia, graças às classes C e D", diz o cirurgião Artur Martini, delegado local do CRO (Conselho Regional de Odontologia).
Ele explica que a profissão vem se mantendo de booms desde a década de 80, quando exibir arcadas metalizadas virou moda. "Todo mundo pôs aparelho e os ortodontistas ‘racharam’ de ganhar dinheiro", conta. Depois veio o primeiro boom dos implantes, seguido dos tratamentos estéticos, entre os 90 e os 2000, até então, a maioria restrita às classes A e B da zona Sul.
Martini, ele mesmo presente nas camadas populares com um pequeno consultório na periferia, lembra que em 1992, quando se especializou, implantava uma dezena de dentes por mês. Hoje, enche a boca dos outros com pelo menos 50 implantes mensais.
Ladeado por álbuns de família afixados na parede e no arquivo de metal, entre as quais, uma foto grande em que segura um peixão num rio, Martini não segura e dispara, em voz alta e cômica, comentários sobre o "milagre brasileiro" apregoado pelos lulistas.
Para ele, programas como o Bolsa Família permitiram o povo se meter a besta em gastos antes desconsiderados. "Nunca votei nele, mas ele tem de voltar [à presidência]. Setenta por cento dos meus pacientes são novos clientes e, graças a ele, fui três vezes para a Europa. Achei que ele voltaria em três anos, mas com esse câncer [na laringe], estou preocupado", declara.
A Fundação Getúlio Vargas diz, inclusive, que a classe D, composta por quem ganha entre R$ 705 e R$ 1.126, está ganhando poder de compra a ponto de superar a classe B, em gastos, agora em 2012. O jornal especializado Brasil Econômico divulgou, recentemente, cálculo em que essa camada deve responder por R$ 400 bilhões rodando no mercado, no próximo ano, um valor 15% maior que em 2011.
"Essa nova classe média agora tem acesso ao sistema financeiro", comenta o cirurgião-dentista Alexandre Villela, que atende em duas clínicas, uma delas, no Centro de Ribeirão, que tem máquina de cartão de crédito e débito. É lá que a vendedora Michele, 21 anos, está completando o tratamento de um canal, cinco obturações e limpeza dos dentes. Ela esperou três anos para o conserto, nem mastigava do lado direito, para poupar o dente, quebrado até a raiz. Tudo vai sair por R$ 750, um pouco acima do salário mínimo mensal que tira na loja em que trabalha. "Paguei metade à vista e o restante vou dividir em três vezes", expõe.
Pagou metade à vista, fique claro, porque ela tinha o dinheiro, mas não por falta de limite. "Com meu salário, eu teria R$ 320 no cartão, mas abri conta em quatro bancos para somar os limites [e ampliá-los]", diz.
Depois que ela terminar o tratamento, a mãe, faxineira em uma empresa de Ribeirão, vai virar paciente da clínica para trocar a prótese. Parcelada, também.